quinta-feira, 15 de maio de 2014

Hoje a noite não tem luar

Título: Hoje a noite não tem luar
Sinopse: Todas as noites eles se encontravam, debaixo do pessegueiro.
Gêneros: Yaoi.
Status: Terminada, um capítulo.
***
Peter correu seus olhos pela arquibancada. Sentiu seu coração pular uma batida ao vê-lo. Os olhos verdes encarando-o da última fileira, um sorriso brincando em seus lábios. Teve vontade de acenar, apenas para que ele soubesse que o vira ali, mas podia sentir o olhar dos outros jogadores queimando sua nuca. Deu um suspiro e espantou as ideias perigosas da cabeça, tentando se concentrar no jogo. O árbitro principal apitou e ele correu para sua posição, recebendo tapinhas nas costas aqui e ali e vários desejos de bom jogo. Algumas líderes de torcida gritavam seu nome, mas não conseguiu olhar para nenhuma delas.
Fora um bom jogo, embora não por sua causa. Não conseguira desgrudar os olhos da plateia, de Jeremy. Sua mente não conseguira sair da expectativa do que viria a seguir, ainda que a culpa lhe corroesse os pensamentos. Torceu os dedos em nervosismo depois de negar o quinto convite de uma garota para alguma comemoração particular. Inventou desculpas mirabolantes, disse que estava comprometido, que tinha um encontro logo depois. Essa última não era bem uma mentira, mas a verdade completa era complicada.
– Ótimo jogo. – Jerry estava sorrindo mais uma vez, recostado em seu Ford Anglia prateado. O estacionamento estava vazio e já se aproximava da meia-noite. Seus cabelos ruivos lhe caíam sobre o rosto e usava sua jaqueta vermelha de sempre, naquele estilo meio largado que Peter aprendera a admirar. Seus jeans rasgados e tênis desgastados terminavam de compor o visual. Gostava da maneira como ele não dependia da opinião de ninguém para ser feliz e de como tinha aquela incrível facilidade em aceitar a si mesmo.
– Não graças a mim. – Ele suspirou e se encostou no carro também.
– Você parecia bem, na minha opinião. Não que eu tenha prestado atenção nos outros, para comparar. – Jeremy deu de ombros. – Vamos?
Os dois entraram no carro e um silêncio se instaurou. Não era o silêncio habitual de conforto a que ambos estavam acostumados, nem o silêncio de quem ouvia uma música boa, embora houvesse uma tocando no momento. Foi assim até que chegassem ao que se tornara o ponto de encontro dos dois: a praça do centro da cidade, que geralmente ficava vazia à noite, debaixo do pessegueiro. O fato, no entanto, não passara despercebido para Jeremy.
– Você está bem? – Era engraçado como já se conheciam. Até mesmo as inflexões do silêncio não passavam despercebidas.
– Não é nada demais.
– Pete…
– Deixa para lá, Jerry. – Tentou sorrir, mas falhou miseravelmente. O escuro provavelmente escondeu o fato, porque Jeremy não falou mais nada e apenas o puxou pela mão até que se sentassem lado a lado. Peter era alguns centímetros mais alto, com aquela beleza típica: os cabelos cor de areia, os olhos azuis, os músculos característicos dos atletas. Ele apoiou a cabeça em Jerry timidamente, mas relaxou depois de alguns minutos.
O contato entre os dois era sempre assim. Peter hesitava, pensava sobre o assunto e fazia, sentindo-se culpado por fazê-lo. Podia ouvir a voz de seu pai repreendendo-o e a de seus amigos do time de futebol chamando-o de bicha. Jeremy não demonstrava se importar, mas lá no fundo o magoava que seu quase parceiro não fosse capaz de aceitá-los.
– Como foi o seu dia? – Peter quebrou o silêncio noturno.
– Compus uma nova música. E o seu?
– Ganhamos o jogo. – Sorriu verdadeiramente dessa vez.
– Você era o jogador mais bonito. – Ele buscou pela mão dele, e então pelos olhos. Hesitou como não era de seu costume, salvo quando estava com Peter. Aproximou-se lentamente, dando-lhe a chance de desviar. Pete não o fez. Nunca o fazia.
Nos intermináveis segundos que Jeremy levava até tocar-lhe os lábios, racionalizava tudo. Pensava nas consequências de ser visto, no que seu pai diria. Sentia a culpa pesar seu coração e encurvar seus ombros, sentia a infelicidade pressionar seus olhos e queimá-los, fazendo-o querer chorar e acabar com aquela vida;
Mas então toda e qualquer palavra desaparecia de sua mente, porque Jerry tinha a habilidade de fazê-lo com apenas um toque. Ele não conseguia pensar em nada além do fogo que lhe tomava o fôlego, ou no corpo que pressionava o seu contra a árvore.
Quando o beijo acabava, tudo o que conseguia pensar era que nada daquilo importava, não naquela noite.
***
Notas da escritora: Já faz um tempo que eu escrevi essa história. Foi para um desafio em que tínhamos que escrever em um gênero que nunca tínhamos escrito antes (e eu escolhi Yaoi). O resultado ficou ligeiramente melhor do que eu esperava e eu fiquei muito feliz. Espero que tenham gostado também.